João Adrião
22 de janeiro às 21:09 · MORTE AO LOBO(1 de 5)AS ARMADILHAS: Atualmente protegido por lei, a história de perseguição aos lobos perde-se nos confins dos tempos. O Homem não poupou esforços para exterminar a fera, e desenvolveu diferentes estratégias e normativos para os efetivar. Uma das várias formas de matar lobos eram, e continuam a ser (dos 83 lobos registrados pelo Sistema de Recolha de Lobos Mortos entre 1997 e 2008, 17% morreram assim), as armadilhas, usadas por toda a Península Ibérica. Contudo, sob a forma de mandíbulas de ferro ou laços, muitas das vezes estas práticas são dirigidas aos Javalis ou a diferente bicharada como Raposas, Ginetas, Fuínhas, etc. Não obstante, esta estratégia foi levada ao extremo, à escala da paisagem, assim culturalmente moldada: os fojos. Fojo, do latim fovea, abunda na nossa toponímia do Minho ao Algarve, mas expressando na sua maioria o seu significado enquanto escavação, buraco, fosso, caverna, cova, mina… Todavia, nalgumas vezes advinha de armadilha. Destas, havia-as de diferentes tipos, algumas generalistas, mas outras enormes e esforçadas construções de pedra destinadas aos lobos, apropriadamente designadas de fojos lobais. Estas estruturas antiquíssimas restringem-se ao NW Ibérico – em Portugal encontram-se sobretudo nas serras que dividem o Minho de Trás-os-Montes (mapa de Alvares 2011 nos comentários) -, nas montanhas onde outras formas de caça se acham complicadas e onde o terreno permite a sua implementação estrategicamente localizada para encaminhar os lobos para lá, onde se viam encurralados por paredes, que afunilavam até um poço, o que revela ainda a necessidade de pedra (alguns seriam em madeira e mesmo que tenham existido por mais lados, não chegaram aos nossos dias).Sendo o seu uso anterior à nacionalidade – o Foral de Tui, de 1095, já referia um “fogium lupalem”. E pouco depois, em 1169, encontramos menção da igreja de uma antiga freguesia de Ponte de Lima… Fojo Lobal. – ainda há pouco tempo o mantinham: por exemplo Oliveira (1998), estudando os fojos da Serra da Cabreira, embora date alguns do século XVII, presume a construção de um deles já em pleno século XX… Mais, F. Alvares (2011) fez um apanhado de Lobos mortos no NW entre as décadas de 1930 e 90, e em 98, 12 haviam sido mortos em Fojos. Os números terão sido, no entanto, bastante superiores no passado (a maioria dos fojos inventariados em Alvares & Petrucci-Fonseca (2002), não era usada desde o século XIX). Com efeito, tal como outras montarias e batidas pelo restante país, o bom desempenho dos fojos dependia do envolvimento de muita gente, o que era uma obrigação das populações desde a primeira dinastia, com ordenações, multas, prémios, etc., aprimoradas mesmo no século XVIII sobre a forma de um Regimento dos Monteiros dos Lobos e outros bichos das Comarcas…A rarefação do Lobo a partir dos anos 60/70, e na década seguinte a proteção da espécie, ditaram o abandono completo destas estruturas. Hoje procura-se a sua valorização enquanto património de valor etnográfico e científico, uma manifestação cultural única, testemunho de um passado não muito distante. A Foto é de uma das últimas batidas realizadas no espanhol Fojo de Valdéon, com uso documentado do século XVII a meados do século XX.